ESPECIAL: Disparada de insumos na pandemia gera custo recorde e leva planos de saúde a prejuízo

A pressão inflacionária que se espalhou por diversos setores no mundo com os impactos da pandemia não deixou imunes os negócios relacionados aos tratamentos médicos. A disparada dos insumos pesou sobre o resultado das empresas de planos de saúde e deve seguir como fator de pressão ao bolso dos usuários nos próximos meses.

Um levantamento da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) adiantado ao Broadcast apontou um aumento recorde de 23,9% nos custos dos planos de saúde durante 2021 com o atendimento de seus beneficiários, quando comparado a 2020. Por outro lado, a receita do pagamento das mensalidades dos benefícios cresceu em ritmo menor, de 9,2%.

Como resultado, as empresas tiveram um prejuízo operacional de R$ 919,7 milhões para todo o setor no ano, indicando que os ventos favoráveis para as operadoras observados em 2020 diminuíram de intensidade. Naquele ano, o conjunto das cerca de 700 operadoras médico-hospitalares reportaram resultado positivo de R$ 18,7 bilhões.

A associação aponta um conjunto de fatores para o desempenho, como inflação mundial dos insumos de saúde, alta do dólar, além de uma segunda onda da pandemia muito pior do que a primeira e que pegou os hospitais já cheios por conta dos atendimentos represados em 2020.

“Vale lembrar que continuamos enfrentando uma inflação global de material médico e medicamentos. Esses medicamentos podem ter ficado de 10 a 30 vezes mais caros durante a pandemia. Os materiais descartáveis ficaram muito mais caros e até hoje não normalizaram. Isso tudo teve um impacto importante no setor”, afirma o superintendente executivo da Abramge, Marcos Novais.

A pressão dos custos já era observada pelas empresas ligadas ao setor de saúde. No ano passado, a Viveo, especializada na fabricação e distribuição de materiais e medicamentos, já visualizava variação acumulada entre 40% e 100% de aumento de custo entre alguns insumos ao longo do ano.

Os resultados das operadoras de planos em 2021 já apontaram pressões adicionais sobre folhas de pagamento e materiais. “Agora estamos mais preocupados com os tíquetes, que podem se recuperar mais lentamente do que o esperado devido à concorrência e condições macroeconômicas, retardando a melhora da margem”, apontou o Bradesco BBI em comentário ao balanço da Hapvida do quarto trimestre de 2021.

Impacto no bolso

No ano passado, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aprovou pela primeira vez um reajuste negativo para planos de saúde individuais, de -8,19%. O percentual teve como referência o ano de 2020, quando houve uma redução das despesas com atendimentos como consultas e cirurgias, em função da pandemia. Esses gastos voltaram a subir com a reabertura da economia.

A autorização da agência também reflete apenas uma parcela minoritária do mercado. O reajuste não contemplava os planos corporativos, que representam cerca de 80% dos contratos.

Em 2022, os reajustes devem pesar mais no bolso dos beneficiários. Após a agência divulgar as demonstrações financeiras das operadoras de 2021, o Bradesco BBI estima um reajuste de 15,8% para os planos, valor que deve ser definido em julho. Nas contas, o analista Marcio Osako incluiu uma variação de custo médico por usuário de 21% entre 2020 e 2021, além de IPCA de 10,4%.

Os planos de saúde para pequenas e médias empresas (PMEs) já estão passando por altas. O BBI destaca que as operadoras brasileiras anunciaram recentemente os aumentos de preços dos planos médicos de contratos corporativos com menos de 30 beneficiários para o próximo período de maio de 2022 a abril de 2023.

O número médio ficou em 18,7% para as cinco maiores operadoras (Amil, Bradesco, Hapvida, GNDI e SulAmérica), o dobro dos 8,8% do ano passado. Os planos PME historicamente tiveram os maiores reajustes, seguidos pelos planos de adesão e corporativos (acima de 30 vidas).

O Credit Suisse também acredita que as pressões de custo precisam ser compensadas por meio do aumento dos tíquetes. Isso, na visão dos analistas Mauricio Cepeda e Pedro Caravina, deve resultar em maior pressão para ganhar ou manter beneficiários. Portanto, o cenário para 2022 segue incerto.

“O alto reajuste de preços deste ano, acima da inflação indica pressões de custos. Acreditamos que as pressões de custo também podem se traduzir em grandes contratos corporativos. Os reajustes do tíquete alto não necessariamente levam ao aumento correspondente nas receitas, pois os beneficiários podem ser perdidos ou negociados”, apontam.

Sinais vitais

Os resultados das operadoras no primeiro trimestre indicarão as tendências para 2022, já marcados por participação de atendimentos de covid nas contas, mas ainda com sinistralidade acima dos patamares normais, com grande volume de procedimentos eletivos.

Segundo Novais, da Abramge, a taxa de ocupação dos hospitais está por volta de 75%, patamar máximo recomendável. Nos anos anteriores à pandemia, esse nível ficava próximo de 70%.

“Um importante fator para o setor como um todo é a contínua pressão da inflação sobre os custos e o lento repasse para os clientes finais. Olhando mais especificamente para as operadoras e administradoras de planos de saúde, esperamos um trimestre com adições líquidas de vidas tímidas, o que deve afetar negativamente o crescimento de receita das empresas. No geral, observamos um panorama morno para o setor de saúde no primeiro trimestre, com possível melhora ao longo do ano”, avalia Luis Assis, analista da Genial Investimentos.

Fonte: Broadcast – 04/05/2022

Por Luísa Laval

Conteúdo publicado originalmente no Broadcast
(http://broadcast.com.br/cadernos/financeiro/?id=VzEyL01sWUxHQnhSK3VZUGFPNHJsZz09#:~:text=Um%20levantamento%20da%20Associa%C3%A7%C3%A3o%20Brasileira,benefici%C3%A1rios%2C%20quando%20comparado%20a%202020)

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