ANS vai certificar planos de saúde que tenham ações para reduzir cesáreas desnecessárias

Empresas poderão ter três níveis de reconhecimento de acordo com itens cumpridos; norma que define regras será avaliada pela diretoria colegiada da agência neste mês

Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) vai lançar neste ano uma certificação para reconhecer planos de saúde que promovam o parto adequado e combatam o alto índice de cesarianas desnecessárias na rede privada de saúde. A previsão é que a norma seja avaliada e aprovada pela diretoria colegiada da agência já na primeira reunião do ano, que será realizada na segunda-feira, 16. O Manual de Certificação de Boas Práticas em Parto Adequado, que define os critérios para o reconhecimento, já passou por consulta pública.

A certificação é um dos resultados do Movimento Parto Adequado, iniciativa da ANS em parceria com o Institute for Healthcare Improvement (IHI) dos Estados Unidos e o Hospital Israelita Albert Einstein. O projeto foi iniciado em 2015 com o objetivo de engajar operadoras de saúde e hospitais na adoção de modelos de assistência que valorizem o parto normal e reduzam o número de cesarianas sem indicação clínica.

O Brasil tem uma das maiores taxas de cesárea do mundo. Em 2021, o índice geral foi de 57%. Se analisados somente os partos feitos na rede privada, o porcentual de cesáreas ultrapassa os 80%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a taxa adequada de nascimentos via cesariana seja de 10% a 15%.

Nos oito anos do Movimento Parto Adequado, 125 hospitais e 68 operadoras participaram de ao menos uma das fases do projeto. De acordo com Angélica Carvalho, diretora-adjunta de desenvolvimento setorial da ANS, a ideia é que a experiência acumulada no projeto sirva de base para que outras operadoras, participantes ou não do movimento, possam, ao buscarem a certificação, adotar melhores práticas no cuidado à gestante.

“No projeto, fizemos tutorias com os estabelecimentos e operadoras participantes e construímos protocolos. O objetivo da certificação é que todas as operadoras possam consultar esses protocolos e realizar suas atividades independentemente de uma tutoria”, afirma.

Ela explica que a busca pela acreditação será voluntária, mas diz esperar que as empresas busquem o selo por ser um importante indicador de qualidade para os clientes. “As empresas que se voluntariarem para a certificação serão verificadas por entidades acreditadoras autorizadas pela ANS. Quem aderir ganhará pontuação no IDSS (Índice de Desempenho da Saúde Suplementar)”, afirma Angélica.

De acordo com o manual de certificação, as operadoras serão avaliadas em sete requisitos: planejamento e estruturação técnica, uso e disseminação de práticas baseadas em evidências, interações centradas na mulher e na criança, acompanhamento do ciclo gestacional e puerperal, integração entre operadora e hospital, monitoramento e avaliação da qualidade e modelos inovadores de remuneração baseados em valor.

Em cada um dos sete requisitos, a operadora terá um conjunto de itens essenciais (obrigatórios) para a certificação e outros complementares e de excelência. De acordo com o índice de cumprimento desses itens, a operadora poderá ser certificada em três níveis: básico (nível 3), intermediário (nível 2) e pleno (nível 1).

Os itens essenciais deverão ser respeitados em todos os níveis de certificação. Para a certificação básica, a empresa deverá também atender a 20% dos itens de excelência, entre outros critérios. No nível intermediário de acreditação, será necessário alcançar 50% dos indicadores de excelência e, para a certificação no nível pleno, esse porcentual deverá ser de 80%.

Entre as dezenas de itens que serão checados estão a conduta da operadora nos casos de gestantes que tentam agendar cesariana sem indicação clínica antes das 39 semanas de gravidez, a disponibilização de informações às pacientes sobre o parto normal com base em evidências científicas, a formalização, junto aos hospitais, de protocolos de manejo da dor, e a garantia de ter, em sua rede credenciada, hospitais com equipe mínima de plantão multiprofissional para atenção obstétrica e neonatal.

A certificação terá duração de dois anos e, para sua renovação, as operadoras terão que monitorar três macroindicadores, com metas para cada um deles: ampliar em 6% a proporção de partos vaginais e reduzir, também em 6%, as taxas de mulheres em condições potencialmente ameaçadoras à vida e de admissão de bebês em UTI neonatal. Se a operadora não atingir essas metas, ela não perderá automaticamente a certificação, mas os indicadores serão usados pela ANS para acompanhamento do desempenho da empresa.

De acordo com Angélica, a agência planeja ampliar, em 2024, o programa de certificação também para hospitais e outros prestadores de serviço da saúde suplementar, como médicos e clínicas. Com isso, será possível saber se uma maternidade ou obstetra segue os requisitos de valorização do parto normal.

Fonte: O Estado de S. Paulo – 13/01/2023

Por Fabiana Cambricoli

Conteúdo publicado originalmente pelo O Estado de S. Paulo
(https://www.estadao.com.br/saude/ans-vai-certificar-planos-de-saude-que-tenham-acoes-para-reduzir-cesareas-desnecessarias/#:~:text=A%20Ag%C3%AAncia%20Nacional%20de%20Sa%C3%BAde,na%20rede%20privada%20de%20sa%C3%BAde)