Renato Casarotti comenta pela primeira vez sobre o caso da Prevent Senior e chama atenção sobre quais caminhos devem ser tomados para contornar crise
O reflexo do caso Prevent Senior na confiança dos consumidores em seus planos de saúde e o receio que o modelo verticalizado adotado pela operadora, em que há uma rede própria de hospitais, uma tendência atual, seja demonizado levou o presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Renato Casarotti, a falar pela primeira vez do tema.
Enquanto o presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fazia seu depoimento na CPI, Casarotti chamou atenção para o “risco de ao atribuir essa crise ao modelo, exonerar a responsabilidade das pessoas”. E destacou que protocolos devem ser estabelecidos com propósito certo e o devido debate técnico e que qualquer inadequação deveria ser apontada ao Conselho Federal de Medicina (CFM) que tem atribuição de verificar se há embasamento científico e adequação técnica.
O senhor já percebe algum efeito dessa crise da Prevent Senior na imagem das operadoras de plano de saúde?
É inegável que tem um efeito. A gente tem esse hábito de tirar o todo pela parte.
O caso da Prevent acabou trazendo uma discussão se essa intromissão no protocolo médico não seria uma consequência do modelo de verticalização, em que a operadora é a dona também do hospital. Como o senhor vê isso?
Não se pode cair na armadilha de acreditar que o modelo levou a isso. Nunca cai no discurso fácil de que o modelo verticalizado precariza a assistência e nem que o de rede credenciada sempre leva ao desperdício. O risco é que ao atribuir essa crise ao modelo, é exonerar a responsabilidade das pessoas. Tanto o modelo de verticalização através dos hospitais próprios, quanto o de rede credenciada, através de parcerias com os prestadores, buscam um custo mais acessível da saúde suplementar. É preciso responsabilizar adequadamente quem responde pelas ações de gestão.
O senhor acha que isso pode levar a mudança na regulação sobre hospitais ou especificamente para planos de saúde que têm rede própria?
Os instrumentos para isso já existem e não só para quem tem rede própria, mas também credenciada. A ANS deve verificar se há negligência no atendimento, se as coberturas previstas estão sendo ofertadas, os prazos estão sendo cumpridos. Não sou a favor de uma regulação específica sobre hospitais próprios. A questão do protocolo, o órgão responsável por isso é o Conselho Federal Medicina. Pela lei, é o CFM que pode dizer se um protocolo médico tem embasamento científico. Ser engenheiro de obra pronta é fácil, mas a ANS poderia ter pedido o parecer técnico do CFM nesse sentido, se ele sustentava ou não o protocolo adotado pela Prevent Senior. Se o parecer fosse contrário, poderia intervir, como anunciou que fará agora.
Fonte: O Globo – 07/10/2021
Por Luciana Casemiro