Tecnologia 5G a favor da saúde

Um projeto lançado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP pretende utilizar a tecnologia 5G para promover atendimento médico remoto em diferentes lugares do país

Já pensou um médico em São Paulo conduzir um exame de imagem em pacientes que vivem em comunidades distantes, quase isoladas? Essa realidade está muito próxima de acontecer, com benefícios diretos aos usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) em todo o Brasil.

Um projeto lançado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP em setembro, em parceria com a iniciativa privada, pretende utilizar a tecnologia 5G para promover atendimento médico remoto em diferentes lugares do país, levando saúde a pessoas que hoje não possuem acesso aos procedimentos.

Trata-se de uma iniciativa de grande importância para a saúde pública brasileira, com alto impacto social e econômico, que permitirá a realização de exames em localidades distantes dos centros urbanos, com transmissão das imagens em tempo real, além de altíssima velocidade, definição e qualidade, para avaliação dos especialistas responsáveis pela emissão dos laudos.

O projeto OpenCare 5G proporcionará uma atenção primária com qualidade em escala nacional, com Unidades Básicas de Saúde conectadas a centros de referência por meio do 5G, além da universalização do pré-natal e atendimento a emergências através de aparelhos de ultrassom portátil conectados à tecnologia. Uma solução inovadora e estratégica, que promove a democratização do acesso e equidade na saúde, melhorando substancialmente o acesso das populações vulneráveis.

Em maio deste ano o HC realizou um piloto do projeto em comunidades indígenas do Alto Xingu, na região amazônica, atendendo a pessoas com dificuldade de locomoção. Os resultados se mostraram promissores.

Na região amazônica somente 4% das mulheres possuem acesso ao acompanhamento pré-natal adequado e, muitas vezes, é necessário viajar oito horas para receber o atendimento. Além disso, nos postos de saúde há falta de médicos especialistas e de equipamentos, e muitas delas não possuem infraestrutura adequada de atendimento. Assim, o ultrassom portátil, operado a distância por profissionais não médicos, supervisionado e diagnosticado por médicos conectados via 5G em centros de referência, poderá ser uma via para oferecer essa cobertura de atendimento.

É preciso levar em conta, ainda, que os custos de montagem de Unidades Básicas de Saúde são elevados, e a conectividade das UBS pode ser uma barreira em determinadas regiões do Brasil. Dessa forma, a produtização de um “point-of-care” contendo um ultrassom portátil conectado ao 5G com aplicativo de comunicação com médicos pode ser uma solução viável e de baixo custo a ser replicada no país.

Após a efetiva implantação da rede, profissionais da saúde poderão, no meio da floresta, fazer o atendimento, utilizando equipamentos de ultrassom conectados à quinta geração móvel, e terão a possibilidade de conseguir um diagnóstico imediato com seus pares de São Paulo.

Por se tratar de uma rede privativa de 5G, dedicada para tráfego exclusivo das instituições de saúde, não há concorrência com a ocupação da rede pública de telefonia celular dos consumidores.

Para atingir o objetivo de universalização do atendimento remoto de saúde universal, o projeto OpenCare 5G foi concebido com duas etapas de expansão. Após a conclusão do piloto dentro das dependências do HC, será executado um piloto com o atendimento remoto em uma cidade do interior do estado de São Paulo para uma experiência real de condução de atividades em áreas urbanas.

Desta experiência, prevê-se uma expansão em escala nacional, com centros regionais de apoio aos profissionais de saúde. De igual maneira, serão executados outros pilotos em área remota do país na região amazônica para o entendimento da adaptação do teleatendimento em situações com menos infraestrutura. Com as lições aprendidas, espera-se expansão para demais localidades de perfil demográfico similar.

O projeto Opencare 5G, por congregar parceiros do setor privado, constitui uma PPP relevante, agregando empresas líder do setor de tecnologia e a Universidade de São Paulo e se constituindo em uma plataforma de atração de investimentos que beneficiarão, na ponta, a população mais carente, usuária da rede pública.

Fonte: O Globo – 19/11/2022

Por Giovanni Cerri

Conteúdo publicado originalmente pelo O Globo
(https://oglobo.globo.com/blogs/receita-de-medico/post/2022/11/tecnologia-5g-a-favor-da-saude.ghtml)