Sou médico com quase três décadas de formação. Por escolha, especializei-me em pneumologia e por desígnios da vida me aproximei e familiarizei com os planos de saúde.
Num deles fui médico clínico, em outro, médico auditor, depois gerente de auditoria, até iniciar uma sólida presença em gestão de planos de saúde.
O mais interessante disso: durante todo meu curso de medicina, nunca nos falaram sobre os tais planos de saúde.
Aprendi na prática e com a vivência a entender esses seres estranhos: os tais planos de saúde! Se um médico conhecia pouco disso, imagino como entendem os usuários não atuantes na saúde.
Convivendo aprendi como atuam, o que fazem e o que se pode esperar. Com isso conheci um novo sistema de saúde que não é público, nem particular, mas atende muito bem e pode proteger muitos. Essas empresas realizam grandes investimentos na contratação de médicos, de inúmeros outros profissionais de saúde, em gestão e qualidade. Grandes esforços por prestar uma assistência de saúde cada vez melhor. Sempre ávidos por melhorar sua gestão e seu custo-benefício.
Esse ecossistema detém atualmente no Brasil quase 50 milhões de beneficiários. Ou seja, próximo a 1/4 da nossa população tem planos de saúde.
Os planos de saúde existentes no Brasil estão compostos por quatro grupos:
1. Cooperativas médicas (grupos de médicos cooperados vendendo planos de saúde);
2. Seguradoras (empresas de seguros vendendo planos de saúde);
3. Autogestões (grandes empresas públicas ou privadas que montam seu próprio plano de saúde);
4. Medicina de grupo (empresas de mercado que vendem planos de saúde).
Todos possuem o mesmo tipo de produto, uma vez que todos são norteados e fiscalizados pelo mesmo órgão: a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). As coberturas previstas em lei são as mesmas para todos os produtos. Ou seja, pelas normas vigentes todos os planos de saúde são praticamente iguais. As diferenças se darão por qualidade, acomodações, tamanho da rede credenciada, custo e benefícios envolvidos. Em resumo, no Brasil, plano de saúde é quase uma commodity!
Nos últimos anos estamos vivendo uma revolução no setor privado de saúde. Esse mercado se aqueceu. Grandes empresas estão se movendo tentando vencer nossas dimensões continentais. Estima-se que, em alguns anos, possamos ter uma operadora que atue em todas as regiões e principais cidades do país e seja acessível a todos os consumidores.
Grandes grupos econômicos iniciaram negociações no setor de saúde, e isso tem evoluído com grandes aquisições e mudanças nos players locais.
Fundos estrangeiros de investimento, grandes cooperativas médicas e grandes redes laboratoriais e hospitalares estão sendo montadas.
Somente em Minas Gerais, no ano de 2021, tivemos a aquisição de várias operadoras de planos de saúde, vários hospitais vendidos e inúmeros negócios envolvendo clínicas e laboratórios. Essas negociações envolveram muitos bilhões de reais.
O que esperamos de todo esse movimento é um crescimento da oferta de novos planos de saúde, com aumento da qualidade do atendimento prestado, bem como, melhoria das condições de trabalho para os profissionais da saúde.
O tempo dirá a que vem essa mudança. Feliz ano novo a todos com desejo de muita saúde e soluções.
Fonte: O Tempo (MG) – 06/01/2022
Por Dr. Celso Dilascio, médico e presidente da Associação Brasileira dos Planos de Saúde em Minas Gerais (Abramge-MG).
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