Fonte: Correio Braziliense – 24/11/2016
A investigação de fraudes em cirurgias com órteses e próteses chegou à Polícia Militar. O Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT) e a Polícia Civil apuram “a evidente participação do plano da saúde da PM” na organização criminosa. O diretor de Assistência Médica do Departamento de Saúde e Assistencial ao Pessoal do Subcomando Geral, coronel Marcelo Gonzaga Peres, e o fiscal de auditoria de perícia médica, major Marco Antônio Alencar de Almeida, são suspeitos de autorizarem cirurgias para o médico Leandro Pretto Flores — preso em uma das fases da operação que apura irregularidades envolvendo especialistas em ortopedia, empresas de materiais hospitalares e hospitais. Para a 4ª Promotoria de Justiça de Defesa dos Usuários de Saúde (Prosus), a investigação apontou uma “forte ligação e intimidade” entre o médico e integrantes do plano de saúde da PM.
A apuração sobre o envolvimento dos oficiais na máfia das próteses começaram depois que uma paciente, dependente do plano de saúde da PM, procurou a polícia. Ela foi submetida a uma cirurgia na coluna, em 2011, com Leandro Flores, mas a operação não deu certo. Ela é filha de um policial militar e, segundo a investigação, tornou-se vítima da ação da organização criminosa.
A cirurgia teria contado com a participação do auxiliar Wenner Costa e da instrumentista Rosangela Machado, ambos denunciados pelo MP como integrantes da máfia. Segundo a investigação, o major Marco Alencar autorizou cirurgia “extremamente dispendiosa para o plano de saúde da PM sem adotar cautela e cuidado”. Ele chegou a anotar em um caderno o valor dos materiais que seriam usados: um montante de R$ 50.892. Todo o processo de análise levou uma semana.
Mas a cirurgia fracassou. O próprio médico teria afirmado para a paciente que “um parafuso ficou solto”. Para espanto dos investigadores, uma nova operação de coluna foi autorizada à mesma paciente, entre agosto e setembro, depois da deflagração da Operação Mister Hyde. Documentos apreendidos com o médico Juliano Almeida também corroboram a suspeita de envolvimento do plano de saúde da PM no escândalo. Ele fez anotações sobre percentuais que deveriam ser divididos.
O coronel Marcelo Gonzaga Peres disse que sua participação no episódio foi apenas de liberação da cirurgia, com base em análise técnica. O oficial afirma que decidiu autorizar o procedimento porque a paciente sofria com muitas dores e instabilidade na coluna e risco de complicações. A nova operação seria realizada por outro médico, diferente do anterior, que está sob investigação na Mister Hyde. O coronel sustenta que, na época da primeira cirurgia, realizada por Leandro Flores, nem sequer estava exercendo funções na PMDF. “Eu não fiz nada de irregular e expliquei ao delegado.” Até o fechamento desta edição, o major Marco Alencar não tinha retornado as ligações.
Busca e apreensão
Logo no início da manhã, agentes da Polícia Civil cumpriram mandados de busca e apreensão na sala dos dois oficiais, no Centro Médico da PM. Vasculharam os espaços por quase quatro horas e apreenderam documentos, computadores e materiais diversos. Foram também ao Bloco D da 115 Sul, onde funciona uma parte administrativa do centro. O coronel e o major foram conduzidos coercitivamente à Deco para prestarem depoimento.
Segundo o delegado titular da Deco, Luiz Henrique Sampaio, as suspeitas foram levantadas a partir da denúncia da paciente e de análises de materiais em fases anteriores. “Estamos suspeitando, mas ainda em fase de averiguação, algum tipo de inconsistência na aprovação das cirurgias. Eles são do plano de saúde da PM e autorizavam os procedimentos. Em um dos casos, aprovaram uma operação do médico preso.”
A polícia quer saber se houve algum tipo de facilitação para aprovação da cirurgia, com possível recompensa. “A gente sabe que as duas cirurgias da vítima alcançaram quase R$ 100 mil. Se houve algum tipo de recompensa, o que ainda precisa ser apurado, deve ser de um percentual em cima desse valor.” Caso as suspeitas se confirmem, a Deco seguirá com a investigação criminal e a Corregedoria da PM apurará possíveis crimes militares. Por e-mail, a corporação se limitou a dizer que “a PMDF, através da Corregedoria, está dando suporte às investigações para que seja elucidado o fato.”
O plano de saúde da PM recebe recursos públicos, o que pode configurar crime de corrupção. “O plano de saúde da PMDF é um daqueles que recebe quantias milionárias dos cofres públicos, via fundo de saúde da PMDF. Verbas estas destinadas por meio de emendas parlamentares”, registrou o MP nos autos da investigação.
O advogado de Leandro Flores, Edson Smaniotto, explicou que o médico operou a paciente em 2011 e, de lá para cá, a mulher desenvolveu o que se chama de pseudoartrose. “É normal em uma situação de pós-operatório, ainda mais ao longo do tempo. Ele (Leandro) só disse que seria necessária uma nova cirurgia, e nunca mais se encontrou com a paciente.”
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